Viviane e Marcelo Mansilha tentam engravidar há oito anos. O longo percurso, que já envolveu diversas tentativas naturais e uma inseminação artificial, foi interrompido por um tempo, com a justificativa de que ambos queriam viajar e aproveitar a vida.
“Faz uns dois anos que eu fiquei como se nada estivesse acontecendo. As pessoas perguntavam sobre o processo, e eu respondia que tinha deixado para lá, que queria viajar. Mas dentro da gente isso não é uma realidade, enganamos a nós mesmos”, afirma Viviane.
Aos 36 anos, a técnica de enfermagem sonha em ser mãe, mas faz parte dos 20% dos casais que dividem fatores que podem interferir na fertilidade. “Depois que me casei, fiquei cinco[anos sem tentar engravidar. Quando decidimos ser pais, tentamos por um ano, e não engravidei. Fui procurar um ginecologista para ver se estava tudo certo, fiz exames, como preventivos e ultrassom intravaginal, e sempre estava tudo bem."
Como sou da área de saúde, logo agendei um urologista para o meu esposo, e, no exame de espermograma, veio o resultado que ele tinha uma contagem inferior, ou seja, alteração seminal”, conta.
Viviane e Marcelo tentam engravidar há oito anos, inclusive por meio de reprodução assistida - Arquivo
Infertilidade
Junho é o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade, que atinge cerca de oito milhões de pessoas em todo o País. Os casos de infertilidade, ou seja, pessoas que tentam engravidar há mais de um ano, acometem em média 40% dos homens e 40% das mulheres.
Além disso, há 20% de chance de o problema estar nos dois, por isso, é essencial que ambos realizem exames quando a gravidez não ocorre no período de um ano após o início das tentativas.
Outro fator que influencia na fertilidade é a idade. Aos 30 anos, as chances de uma mulher engravidar naturalmente são de 90% em um ano. Aos 35 anos, o índice ainda é alto, 85%, mas aos 40 anos a taxa cai bruscamente, apenas 25%.
“Aos 30 anos, antes disso até, com 26, 27 anos, a mulher deve investigar qual é a reserva ovariana dela, qual o momento da fertilidade que ela se encontra, porque nós sabemos por estudos já bem estabelecidos que a menopausa na mulher brasileira ocorre ao redor dos 48 anos, e 13 anos antes disso, ela já começa a ter uma diminuição da fertilidade”, explica a ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana Suely Resende.
No caso de Viviane, a primeira vez que ela decidiu se submeter a uma reprodução assistida foi em 2015.
“Depois de algum tempo tentando e mesmo com os médicos falando que estava tudo bem, eu procurei uma clínica de fertilização e iniciei um tratamento de fertilidade. Os médicos passaram medicações para o meu marido que melhoram a testosterona e, depois de uns três meses suplementando, ele teve uma melhora. Mas mesmo assim eu não consegui engravidar”, pontua.
Como as avaliações posteriores do espermograma do marido foram ruins, os médicos aconselharam Viviane a tentar o tratamento de reprodução assistida, que custava na época mais de R$ 20 mil.
“Eu sou técnica, meu esposo trabalhava como arte-finalista. Nós não tínhamos condições financeiras, esperamos mais ou menos um ano, até que surgiu a possibilidade de eu ser doadora de óvulos”, explica.
Neste caso, Viviane doaria uma parte dos óvulos para diminuir o custo do seu tratamento. “É o tratamento compartilhado. No caso, eu coletei 16 óvulos: oito ficaram comigo e oito foram para doação. Desses oito, apenas dois evoluíram e foram transferidos, mas não implantaram”, conta.
Para ela, de todas as questões que envolvem o processo, as financeiras e emocionais são as mais difíceis.
“Muitas vezes a gente quer, mas não tem condições de fazer o tratamento. Na época nós fizemos das tripas coração, porque a gente não tinha condições, tiramos de onde não tínhamos. Ainda tem a questão emocional: eu fiquei bastante deprimida quando eu peguei o resultado negativo. Para o homem, a questão de ter uma alteração é bem mais complexa, principalmente para ele aceitar que tem um problema para gerar um filho”, afirma.
Endometriose
Viviane acredita que, aos 36 anos, chegou em um momento decisivo para tentar engravidar novamente, principalmente após descobrir um quadro de endometriose, doença caracterizada pela presença do endométrio – tecido que reveste o interior do útero e pode causar problemas de fertilidade.
“Fiz novos exames e descobri uma endometriose peritoneal com três focos. Sempre tive muita cólica, sempre tive muito sangramento, mas a gente fala e é sempre considerado normal. Mas não é normal ter muita cólica, ter tanto coágulo na menstruação: meu fluxo era de sete dias."
"Durante a cirurgia para retirar os focos, a médica viu que uma das trompas estava obstruída, ela forçou bastante e desobstruiu, mas não sabemos ainda se essa trompa será funcional. Depois da cirurgia, sempre falam que é mais fácil engravidar, fiz um coito programado, mas não engravidei ainda”, esclarece.
Segundo a médica, nas clínicas de fertilização, 50% das mulheres sofrem com endometriose. “Cerca de 5% de toda a população de mulheres do mundo vai ter endometriose. Deveria ser considerado um problema de saúde pública, traz dor, dificuldade de vida sexual ativa, na vida social, no trabalho, mudança no trânsito intestinal, pode dar diarreia: a mulher fica realmente prejudicada com a doença, é muito incapacitante."
"Ataca muito a questão da infertilidade, dá uma infertilidade grande. Imagina que ela é uma doença inflamatória pélvica, isso faz com que os óvulos sejam de qualidade ruim, atrapalha a subida dos espermatozoides até o óvulo porque afeta a anatomia das trompas, dá aderência, traz muita dor, muito desconforto”, pontua.
Tanto Viviane quanto a médica aconselham que os casais procurem o tratamento cedo, caso identifiquem algum problema. “Diagnóstico precoce ajuda muito”, frisa Suely.
Fonte:https://correiodoestado.com.br/correio-b/infertilidade-em-casais/387066